O cardeal do Rio de Janeiro Dom Eugenio de Araújo
Sales, arcebispo emérito do Rio, morreu na noite desta segunda-feira,
por volta de 23h30m, no Rio de Janeiro. Segundo a Arquidiocese, ele
morreu em casa, no Sumaré, de causas naturais. O religioso será velado a
partir da manhã de terça-feira na Catedral, onde deverá ser enterrado. A Arquidiocese informou, ainda, que a rotina de Dom Eugênio nos
últimos dias era apenas de ficar no quarto e no gabinete, onde lia
muitos jornais e assistia à TV. Ele não teria nenhuma doença específica. Nascido em 8 de novembro de 1920, em Acari (RN), o cardeal teve o
nome entre os candidatos a Papa depois da morte de João Paulo I.
Conhecido como o homem do Vaticano no Brasil durante os 30 anos em que
esteve à frente da Arquidiocese do Rio, o cardeal continuou sendo
querido pelo Papa, mesmo afastado das funções eclesiásticas no estado
fazia quase uma década. O arcebispo emérito do Rio chegou a ser
surpreendido, às vésperas de completar 90 anos, por uma carta de
felicitações assinada por Bento XVI. Para Dom Eugenio, o documento não
foi sinal de prestígio, mas o reconhecimento de uma vida dedicada à fé. Em 67 anos de vida dedicada à Igreja, o cardeal foi rotulado tanto
como líder conservador quanto "bispo vermelho", por ter, no início do
sacerdócio, ajudado a criar os primeiros sindicatos rurais no Rio Grande
do Norte. Um capítulo importante da vida de Dom Eugenio remonta à
ditadura, quando atuou de maneira silenciosa, abrigando no Rio mais de
quatro mil pessoas perseguidas pelos regimes militares do Cone Sul,
entre 1976 e 1982, especialmente argentinos. A história da participação
sem alarde do arcebispo foi contada, 30 anos depois, pelos principais
meios de comunicação. Discretamente, o cardeal cultivava delicadas
relações com os militares e ajudou a salvar vidas.
Para dar conta de tanto pedidos, autorizou o aluguel de quartos e
depois apartamentos. A ajuda incluía dinheiro para gastos pessoais,
assistência médica e auxílio jurídico. Em entrevista ao GLOBO em 2008,
Dom Eugenio contou por que agiu nos bastidores: - Se eu anunciasse o que estava fazendo, não tinha chance. Muitos não
concordavam, mas eu preferia dialogar e salvar - disse. - Eu não tinha
nem nunca tive interesse em divulgar nada disso. Queria que as coisas
funcionassem, e o caminho naquele momento era esse, o caminho de não
pisar no pé (do governo). Em entrevista ao GLOBO em 2010, vestido de preto, com um crucifixo de
prata no pescoço, o homem que organizou as duas visitas do Papa João
Paulo II ao país, em 1980 e 1987, respondeu a todas as perguntas com
serenidade, mas fez questão de deixar claro que estava cansado do
assédio por conta das comemorações do seu 10º aniversário: - Eu já estou cansado, às vezes minha memória falha. Mas faço questão
de receber os jornalistas. Nada no mundo funciona sem a comunicação.
Ela é fundamental para difusão do Evangelho. Eu levei isso muito a sério
na minha vida religiosa, instalei rádios, escrevi em jornais, dei
muitas entrevistas para TV. Quando eu não podia ir ao local, eu chegava
às pessoas pelos meios de comunicação. Além de ter ser considerado um bom articulador e um defensor
incansável da doutrina católica, Dom Eugenio era citado como grande
empreendedor. Ao assumir a Arquidiocese, na década de 70, mandou
construir nos fundos do Palácio São Joaquim um prédio de dez andares
para reunir num só lugar serviços da Igreja espalhados pela cidade.
Também criou dezenas de pastorais, entre elas a Pastoral Penal, a das
Favelas e a do Menor. Dom Eugenio passou parte da infância no sertão nordestino. A vocação
para o sacerdócio surgiu no início dos anos 30, após ser matriculado em
colégio marista de Natal. Antes de optar pela Igreja, pensou em ser
engenheiro agrônomo. Foi ordenado em 21 de novembro de 1943.
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