Estudantes e representantes de movimentos sociais acompanharam a reunião.
Em uma sala lotada de estudantes e de representantes de movimentos sociais, a comissão especial do Plano Nacional de Educação (PNE – PL8035/10) aprovou a aplicação de 10% do Produto Interno Bruto (PIB)
do País em políticas do setor em até dez anos. O índice vinha sendo
reivindicado por deputados da oposição e parte da base aliada do
governo, além de representantes de entidades da sociedade civil.
Hoje,
União, estados e municípios aplicam juntos cerca de 5% do PIB na área.
Na proposta original do Executivo, a previsão era de investimento de 7%
do PIB em educação. O índice foi sendo ampliado gradualmente pelo
relator, deputado Angelo Vanhoni (PT-PR), que chegou a sugerir a
aplicação de 8% em seu último relatório.
Um
acordo feito nesta terça-feira (26) entre governo e oposição garantiu o
apoio do relator aos 10%. Pelo texto aprovado, o governo se compromete a
investir pelo menos 7% do PIB na área nos primeiros cinco anos de
vigência do plano e 10% ao final de dez anos. A proposta segue agora
para o Senado.
Flexibilidade
Oito destaques apresentados
ao relatório de Vanhoni sugeriam mudanças na meta de investimento em
educação. Pelo acordo, apenas a meta de 7% em cinco anos e 10% em dez
anos foi colocada em votação. Autor do destaque aprovado, o deputado
Paulo Rubem Santiago (PDT-PE) acredita que essa alternativa teve apoio
do governo porque oferece flexibilidade na gestão orçamentária. Isso
porque outras propostas previam metas intermediárias ano a ano.
Para
o coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação,
Daniel Cara, a aprovação dos 10% é resultado da pressão de entidades
ligadas ao setor: “São dois fatores primordiais que garantiram que esse
acordo fosse consagrado: o trabalho técnico de diversas instituições,
que mostraram a necessidade dos 10%, e a mobilização popular”.
Vanhoni: 8% já seriam suficientes para uma melhoria significativa da educação.
Apesar
de ter votado pelos 10%, Vanhoni voltou a afirmar que os 8% seriam
suficientes para uma “melhoria significativa da educação no País”. “Esse
valor já daria conta dos grandes desafios da educação hoje, que são a
incorporação das pessoas que estão fora do sistema e a melhoria da
qualidade do ensino. Contudo, não compete ao relator ir de encontro a
99% da comissão especial”, avaliou.
Sanção
A
proposta do PNE não prevê sanção no caso de descumprimento da meta
estabelecida. Para o presidente da comissão especial, deputado Lelo
Coimbra (PMDB-ES), “não há razão para se desconfiar, em princípio, da
não efetivação das metas”. “Um instrumento legal que cria uma referência
de valores deve ser acompanhado e nós, aqui no Congresso, vamos
fiscalizar a sua execução periodicamente.”
Paulo
Rubem Santiago afirmou que o cumprimento dos 10% ainda depende, além da
aprovação no Senado, da pressão de movimentos sociais. “É preciso ter
em vista que o Orçamento no Brasil é autorizativo. A efetivação dessas
verbas ainda depende de mobilização ao longo dos próximos dez anos”,
alertou o deputado.
Destaques
Outro
destaque aprovado nesta terça-feira foi a antecipação da meta de
equiparação do salário dos professores ao rendimento dos profissionais
de escolaridade equivalente. O relatório de Vanhoni previa o cumprimento
dessa meta até o final da vigência do plano. O destaque aprovado, por
sua vez, estabelece a equiparação até o final do sexto ano do PNE.
“Temos
de evitar o abandono das salas de aulas por profissionais competentes.
Uma remuneração justa para o magistério é condição básica para a
melhoria do ensino”, justificou o deputado Biffi (PT-MS), um dos autores
do destaque.
“É
notório como os salários da rede pública de educação estão defasados.
Os professores têm hoje a profissão mais desvalorizada do País”, disse a
deputada Fátima Bezerra (PT-RN), que também sugeriu a mudança.
A
comissão especial aprovou ainda o prazo de um ano após a sanção do PNE
para a aprovação da Lei de Responsabilidade Educacional. O projeto, que
já está em tramitação na Câmara (7420/06),
estabelece responsabilidades de gestores públicos na melhoria da
qualidade do ensino. Ambos os destaques aprovados receberam o apoio de
Vanhoni.
Fátima Bezerra: "professores têm hoje a profissão mais desvalorizada do País".
Rejeitados
Outros
destaques colocados em votação, no entanto, foram rejeitados. Uma
sugestão do PSDB antecipava do terceiro para o primeiro ano do ensino
fundamental o prazo para a alfabetização dos estudantes. Já um destaque
do PDT estabelecia um sistema nacional de gestão democrática, com a
realização periódica de conferências e a criação e conselhos para
avaliação das políticas do setor.
Outras
propostas rejeitadas estabeleciam regras claras sobre as
responsabilidades de cada ente federado na aplicação de verbas em
educação. A autora de uma das propostas, deputada Professora Dorinha
Seabra Rezende (DEM-TO), argumentou que a União investe apenas 20% do
total que é aplicado em educação no País. O restante fica a cargo dos
estados e dos municípios. Para a deputada, a União deveria arcar com
pelo menos 30% do valor global.
Postado por Blog Marcos Imperial.
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